segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Abstract:

Neste texto está descrito de forma engraçada um passeio de fim-de-semana onde o câmbio de culturas esteve presente. Os cinco participantes representando quatro nacionalidades oriundas de continentes diferentes, viveram situações de tensão, riso, alegria e contemplação. Em três dias apensas visitaram uma cidade, uma vila e um lago, tendo a presença, neste últimos dois, sido de muito curta duração. Foi apenas no final que o autor percebeu que a cultura latina tem aspectos maus, mas em algumas situações é bastante boa.

  

Passeio sem Portugueses, bom ou mau?

 

Tudo começou naquela sexta feira bastante chuvosa!

Ele esqueceu-se de imprimir o passeio detalhado e eu como sempre estava atrasado! Toquei à campainha e o Matthias apareceu com as coisas e descemos no elevador! Lá seguimos depois de ele ter ido buscar o carro para o estacionar junto à porta! Assim as malas escusavam de ficar tão molhadas e eu também!

Mercedes classe A, o carro onde a amiguinha dele dissera que não cabem 5 pessoas confortavelmente sentadas nem mais de duas para ir ao supermercado! A avaliar pelo susto que o motor nos pregou nos primeiros 500 metros até se constatou que não era má ideia ir a pé. Percebi que o conceito de conforto é extremamente diferente nos países do Sul da Europa onde cabe sempre mais um!

Lá seguimos em direcção à faculdade onde com a impressão dos trajectos eu ia dar início à minha actividade de co-piloto desta viagem, que antes de chegar ao destino terminou de forma pouco agradável. Tudo parecia fácil, sem espinhas, até ao momento em que a caligrafia do jovem alemão de 24anos se revelou igual à de uma moça no início da escola primária. Ler, foi um autêntico desafio que por vezes não fui capaz de superar. Das três moradas, duas só percebi quando recebi a mensagem no telemóvel e a outra era a de minha casa! Assim, trinta minutos depois chegamos junto dos restantes companheiros do passeio de fim-de-semana.

A direcção era Oslo e a partida deu-se às 9h45 com apenas quinze minutos de atraso, sem stress aparente o carro deslizou dali para fora pela auto-estrada e só passadas cerca de duas horas e meia, é que decidimos esticar as pernas e saborear qualquer coisa. Tinha feito umas sandes para todos na noite anterior, salame e comprados maças que acabaram por ficar esquecidas em casa.

Foi na fronteira que o tempo mudou, quase se podia dizer que a Suécia anda a prestar contas com S. Pedro! Não foi por muito tempo que o sol marcou a sua presença mas a chuva também só voltou ao final do dia.

Mais tarde no caminho houve então a necessidade da minha ajuda para a escolha acertada do percurso. Passadas as duas portagens assinaladas, ficou apenas a faltar uma! O descanso em que me encontrava enquanto aguardava o aparecimento da terceira foi interrompido pela necessidade súbita de uma tomada de decisão solicitada pelo condutor. Sair ou não em direcção a uma circular da cidade destino. Três segundo foi o tempo que levei a dizer, “Yes, yes!” e em apenas breves instantes comecei a ouvir berros descontrolados do jovem que nunca antes tinha mostrado a sua faceta stressada. O Matthias, na posição de condutor e proprietário do automóvel tinha tido bastante tempo para, numa manobra arriscada para nórdicos, e deveras normal para Latinos, desviar a trajectória e seguir pela saída em questão. No entanto optou por me chamar alguns nomes e dizer que devia estar mais preparado. Segundo ele, eu devia ter lido todo o plano que nessa mesma manhã tive de imprimir sobre pressão do próprio que se tinha esquecido de o fazer. Qualquer questão tinha de obter resposta imediata, e como co-piloto eu era decididamente a pior experiencia da sua vida. Para um Latino, falhar numa situação destas é apenas motivo de gozo e até de alegria. Quem nunca se perdeu numa road trip? E o que é uma road trip sem nos perdermos?

O transtorno que se apoderou dele foi de tal ordem que nem pensei duas vezes antes de dar os papéis ao Mehrdad que seguia no lugar da frente, ao lado do Matthias. Tanto o Mehdi como o Benoit, meus companheiros no banco de trás, tentaram levar a situação para a brincadeira, mas era visível no condutor, que tentou acompanhar esta onda, a raiva por ter falhado numa situação apenas por depender num mero Português que por cultura ou maneira de encarar a vida se encontrava relaxado numa altura crucial.

Deu prazer ver que o Mehrdad não estava a perceber os papéis, mas mais prazer deu ainda perceber que o Matthias estava apenas a seguir o seu instinto e os nomes que se lembrava da noite anterior. Foi estranho perceber que ele sabia tudo de cor e que não estava a confiar. Para quê aquelas impressões e porque não ele fazer tudo sozinho? Talvez, porque não demorou três minutos a ser preciso o novo co-piloto assistir o tripulante mais importante do carro. A custo lá seguiu as indicações e tudo parecia estar a seguir de um modo correcto.

O semáforo passou a verde e ao virar na esquina surgiu um outro, desta vez vermelho. Eu decidi tentar a minha sorte para testar a tensão que se vivia na situação. Questionei a validade do segundo e com isto abrandamos e parámos, cumprindo a lei. A buzina do carro que seguia atrás veio confirmar que não era para nós esta segunda indicação. Mas foi, mais uma vez, a imediata arrogância extrema do condutor que me fez perceber que a situação se tinha tornado mesmo delicada. Com uma voz bem mais incisiva que a anterior disse que o carro era dele, o condutor era ele e que ninguém tinha que questionar as capacidades de condução.

Fiquei espantado com o egoísmo que se viveu naquele carro. O carro era dele, mas a vida é minha, a condução era dele, mas a vida é minha. Os perigos são de todos. Mesmo indignado, percebi que os quinhentos metros que nos separavam no hostel não eram suficientes para esgrimir uma série de argumentos pois talvez o ambiente piorasse.

Eu estava dentro do carro à porta do hostel, mas fora de mim. Nem nas informações que o Mehdi foi pedir, o Matthias confiou. Teve necessidade de ir atrás de modo a ouvir o que se passou.

Mas eu não consegui, e mesmo sem ter ido ao hostel ouvir, porque tal atitude poderia ser a minha sentença de morte, depois de perceber que nenhum deles tinha a informação correcta perguntei porque não dar a volta ao quarteirão e parar nos locais um pouco antes da entrada. Finalmente uma resposta mais calma rejeitando a minha proposta. No meio das palavras vinha uma mensagem que pedia que não dissesse mais nada.

Calmo, aceitei e pela quinta vez nas últimas três horas encostei a cabeça pensado que escusava de perguntar seja o que for. Assim me mantive até à chegada tão esperada ao hostel.

Eram 14h15 e só a partir das 15h se podia fazer o check in. Resolveu-se a questão relativa a ter sido impossível no momento da reserva pôr todos os participantes no mesmo quarto e colocou-se todas as malas na sala para esse efeito. Carro arrumado no parque, mapas, tudo a postos.

Segui atento e enquanto deambulávamos pelas ruas avistámos edifícios interessantes. A catedral infelizmente encontrava-se em trabalhos de reparação. Bastante passeio pelas ruas, muitos sem abrigo, algumas lojas, cafés e restaurantes e ainda jardins. Uma cidade pequena mas arrumada e quase limpa. Chegámos à zona do mar, junto ao local onde são dados os Prémios Nobel, e toda a tarde se tinha passado. O sol com de costume às 15h30 desaparecera sem que as nuvens permitissem o seu vislumbre.

Para jantar perto das 19h30 era necessário ir antes fazer o check in e voltar. Assim foi, mas na volta para iniciar a busca do restaurante as gotas fizeram-se sentir. E depois de passarmos pelo primeiro restaurante que oficialmente marcou o início desta caminhada, começou a chover com maior intensidade. Foi só cerca de 45minutos depois, que sentirmos que a primeira escolha tinha sido boa e estar molhado poderá ter ajudado a essa situação.

Restaurante Francês com comida Libanesa e Norueguesa com uma exibição de dança do ventre. Tudo isto numa cave cheia de mobiliário moderno associado ao que habitualmente é denominado de peças de design. Pouco cheio, ou muito pouco, e com comida bastante boa. O preço nem reflectiu muito a situação.

Já a cerveja no bar onde fomos mais tarde, que custou 9€ mostrou que a Noruega é assim, cara. Chegou a hora de ir descansar e a noite podia ter sido melhor se não houvesse alguém que ressonava duas camas ao lado.

O plano era ambicioso e fiz questão de o levar até ao fim. Acordar às 8h para aproveitar o segundo e último dia da estada em Oslo. Fui o primeiro a pular da cama até porque a noite tivera sido de pouco sono. A meteorologia previa sol, e os meus olhos confirmaram que não se tivera enganado. Pequeno almoço no caminho para a obra que fez esta viagem valer a pena.

A Opera House de Oslo é espantosa. Foi lá que passamos quase toda a manhã contemplar a beleza que o arquitecto deu ao local e o sol que se fazia sentir. Antes de almoço ainda fomos passear ao forte e andamos a ver os canhões que a ONU tinha em exposição! Mas com a fome a apertar foi preciso alargar o passo e ir em direcção a um local idêntico às docas almoçar.

No Friday’s recebemos um balão com um número que nos identificava na fila de espera. Mas aquela situação sem crianças a quem o dar, só mesmo fotografias parvas é que estava a pedir. E lá começamos nós! Passeamos mais um pouco e voltamos até à decisão de deixar Oslo e rumar a Karlstad, a grande incógnita da nossa viagem. Todos os Suecos diziam ser um sítio mínimo e sem interesse.

Nova tentativa do co-piloto sobre o qual estava focada a atenção dos restantes. Sair de Oslo foi fácil mas o telefonema prolongado em que este se envolveu fez falhar uma situação crucial. A pequena diferença é que ninguém percebeu e só 30km depois decidimos parar e realizar onde estávamos. Saímos do carro à noite, mapa no capot do carro e vamos disto! Não se vê nada, como de costume era de noite, estava frio… Mas aqui o engenhocas tinha tirado na feira de emprego uns dias antes umas luzinhas que pareciam inúteis mas afinal… A direcção em que íamos era errada e daí veio a necessidade percorrer mais meia centena de quilómetros e por estradas nacionais. Tudo tinha sido bom se desse para que os passageiros vissem alguma coisa.

Às 8horas da noite percebemos que não íamos chegar a tempo e jantar era um ponto assente desde o começo da viagem. Foi numa vila mínima que parámos num restaurante Italiano, cuja dona viemos a descobrir ser Holandesa e o marido Libanês.

À chegada durante a noite nada se pode verificar da dimensão da vila. Foi na manhã seguinte, que ao sair do hostel percebemos que estávamos num sítio pequeno, com a maior ponte de arcos da Suécia, mas pequeno. Ao início do dia o sol brilhou, mas com o passar do tempo a chuva apareceu e a decisão de fuga novamente não tardou.

Último destino, o maior lago da Suécia, Vänern. Mas e o caminho? Era preciso um co-piloto e ninguém servia. O carro tinha pouca gasolina e portanto também era importante descobrir a bomba de gasolina. Foi o cabo dos trabalhos. Novamente chatices com os mapas, tudo chateado, incluído eu. O Matthias desesperado já fazia tudo por ele. Também como uma cambada de incompetentes e inúteis dentro do carro… e o pior é que ele pensava assim.

Penso que não seja necessário descrever com todo o pormenor o modo como parou o carro várias vezes, berrou, esperneou, disse que ninguém tem que opinar e muito mais.

Foram horas de caminhos, estradas pavimentadas, estrada de terra batida e até lamaçal para chegar a um ponto em que só a pé se podia continuar. 1300metros era a distância anunciada na placa para chegar ao dito lago e poder tirar algumas fotos a comprovar a presença. Um lago de uma dimensão que parece o mar. Não há o outro lado!

Nova passeata em direcção ao carro sempre debaixo de chuva e com o ar fresco do campo.

Mais um passeio, agora mais calmo para casa, mas a cereja no topo do bolo só foi descoberta já no final. Paragem noutra vila por volta das 17h30, depois de a noite se fazer sentir há mais de 1h, para comer. A maioria jantou, mas eu almocei!

Já com algum cansaço começamos a avistar a Árvore do Liseberg, que tem cerca de 40metros de altura. Gotemburgo estava bastante próximo e o Matthias já conhecia bem a auto-estrada por ser a mesma do aeroporto. Vínhamos de norte e passamos toda a cidade para o lado sul onde se encontra o nosso prédio. Foi depois da última saída antes da nossa que a pergunta surgiu: “Onde preferem ficar? Algum sítio em especial ou deixo-vos à porta de minha casa e apanham o Autocarro?”. A mim nada me influenciava, o facto de morar no mesmo prédio que o dono do carro fazia com que me sentisse bastante calmo. Muito a custo um deles perguntou se podia ficar em Korsvägen, a saída que tínhamos acabado de passar e que faria a nossa chegada tardar não mais de 5minutos! A resposta foi apenas curta e concisa: “Korsvägen já passou!”

Dois minutos mais tarde, os três companheiros de viagem estavam na paragem de autocarro, num domingo à noite por capricho de um alemão extremamente frio. Minha rica cultura latina, essa que ninguém me tire!

 

 

P.S.- Algumas situações caricatas e memoráveis não estão escritas neste texto com o objectivo de diminuir um pouco a sua extensão. É oficial que o Matthias é um tipo porreiro mas sem o carro por perto!

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